segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Expressões interessantes
     Estas expressões encabeçam cada página ímpar do livro De Onde Vêm As Palavras, Editora Mandarim. O autor apresenta a etimologia das palavras em ordem alfabética, sendo um verdadeiro dicionário.
À BEÇA.
      Significando em grande quantidade, a origem desta expressão é atribuída à profusão de argumentos utilizados pelo jurista sergipano Gumercindo Bessa ao enfrentar Rui Barbosa (1849-1923) em famosa disputa pela independência do então território do Acre, que seria incorporado ao Estado do Amazonas. Quem primeiro utilizou a expressão foi Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), presidente do Brasil de 1902 a 1906, depois reeleito, mas sem poder assumir por motivos de saúde, admirado da eloquência de um cidadão ao expor suas ideias: "O senhor tem argumentos a bessa". Com o tempo, o sobrenome famoso perdeu a inicial maiúscula a os dois ‘esses’ foi substituídos pela letra ‘cê’.

A BOM ENTENDEDOR, MEIA PALAVRA BASTA.
      Frase proverbial, este dito recomenda a concisão no falar, nem sempre aceita pelos latinos, cuja exuberância vai além da fala, estendendo-se também aos gestos. Entretanto, seus dois registros mais famosos foram feitos por dois autores espanhóis: Fernando Rojas (1465-1541), na célebre comédia A celestina, Miguel de Cervantes (1547-1616), em Dom Quixote, mas com a variante "A buen entendedor, breve hablador". Os franceses também excluíram o verbo do ditado, sendo corrente entre eles a expressão "À bom entendeur, demi mot". Exemplos de que não parecemos bons entendedores são nossas leis, inclusive nossa constituição. No Brasil há leis definindo, para efeitos de comercialização, o que é ovo e que tipo de multa deve levar um carroceiro na cidade de São Paulo!

A BONDADE DAS MULHERES É MAIS PASSAGEIRA QUE SUA BELEZA.
      Esta frase é de autoria do escritor espanhol Ramón María del Valleinclán (1839-1936), autor do clássico Tirano Bandeiras, que serviu de inspiração aos escritores latino-americanos cujos romances estruturaram suas narrativas ao redor da figura do déspota, quase sempre caracterizado como grosseiro, ignorante, cruel. Outros livros seus apresentam personagens atormentados por estigmas físicos e morais. O autor, que vestia sempre uma capa negra, teve várias infelicidades amorosas e uma delas teria sido o motivo do duelo que o fez perder um braço. Por isso, o rigor do juízo exagerado sobre a condição feminina pode ter seus fumos autobiográficos.

A CASCAIS, UMA VEZ E NUNCA MAIS.
      A história desta frase, provérbio consagrado que os portugueses trouxeram para o Brasil, remonta uma praia de Portugal chamada Cascais, muito frequentada pela família real nos tempos monárquicos, que lá duraram mais do que aqui, dado que a república foi proclamada 21 anos depois da nossa. Tornou-se praia muito cara e apenas os ricos podiam suportar as exageradas despesas. O escritor Português José Valentim Fialho de Almeida (1857-1911) fez o registro da frase famosa no livro Os gatos, em que critica os rega-bofes havidos no balneário, que "o descaramento e o dinheiro só folgadamente permitem a dúzia e meia".

A DAR COM UM PAU.
     Esta frase, indicando abundância, nasceu no nordeste. Vindas da África, milhares de aves de arribação, extenuadas pela travessia do atlântico, pousam na lavouras em busca de alimentos. Chegam cansadas e famintas, quase desabando sobre o solo. Os sertanejos, porém, não tem nada com isso e aqueles bandos apresentam séria ameaça às plantações. Ou eles matam as aves ou depois não terão o que comer. Desaparelhados para o combate, antigamente os agricultores matavam os pobres pássaros a pau, e não aparecia nenhum ecologista para defendê-los. O escritor Joaquim José da França Júnior (1838-1890), patrono da cadeira 12 da academia Brasileira de Letras, registrou a frase famosa na comédia Direito por linhas tortas: "A mulher tomou sulfatos a dar com um pau".

A EMENDA SAIU PIOR DO QUE O SONETO.
     Querendo uma avaliação, certo candidato a escritor apresentou soneto de sua lavra ao poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) pedindo-lhe que marcasse com cruzes os erros encontrados. O escritor leu tudo, mas não marcou cruz nenhuma, alegando que elas seriam tantas que a emenda ficaria ainda pior do que o soneto. A autoridade do mestre era incontestável. Bocage levou essa forma poética a tal perfeição que fazia o que bem queria com um soneto, tornando-se muito popular, principalmente em improvisos satíricos e espirituosos, pelos quais é conhecido.

A MAIORIA DOS HOMENS SE APAIXONA POR GILDA, MAS ACORDA COMIGO.
      Esta frase, dita pela primeira vez pela atriz americana Rita Hayworth (1917-1987), virou metáfora de relações amorosas baseadas na fantasia e que depois caem na real. Rita construiu uma imagem voluptuosa em seus filmes, sobretudo naqueles rodados na segunda guerra mundial, que serviam de entretenimento aos soldados aliados. Deusa do amor nos anos 40, era suave, sensual e charmosa. Ótima dançarina e intérprete, a atriz encontrou boas razões para proferir a frase famosa. Seus casamentos não davam muito certo, mas ela ia persistindo. Teve cinco maridos, entre eles o cineasta americano Orson Welles (1915-1985).

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