sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Expressões interessantes 

Estas expressões encabeçam cada página ímpar do livro De Onde Vêm As Palavras, Editora Mandarim. O autor apresenta a etimologia das palavras em ordem alfabética, sendo um verdadeiro dicionário(continuação)
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CAIR NA GANDAIA.
Cair na gandaia é variação de andar à e na gandaia e se aplica a quem leva vida de vadiagem, sem responsabilidade, viajando para muito longe, por muito tempo, sem dar explicações a ninguém. Pode ter havido influência da grafia equivoca de Catai, na Cochinchina, esta última com o significado de lugar muito distante. Catai passou a Gadai e daí a Gandaia. Viver na gandaia equivale a não trabalhar, entregar-se ao ócio. Gandaiar é também o ofício do trapeiro, segundo nos informa Raimundo Magalhães Júnior, que bisbilhota os lixos à procura de algo que lhe seja útil. Gandaia pode ter vindo do espanhol gandaya, derivação de gandir, comer. Os árabes, que ficaram sete séculos na Península Ibérica, têm o vocábulo gandur, peralta, travesso. Se o vocábulo é de origem controversa, a frase que o aproveita, entretanto, não deixa dúvidas sobre sua aplicação contemporânea: vive na gandaia quem não tem o que fazer. À vezes, compulsoriamente, como ocorre aos desempregados, cujo número aumenta de forma preocupante nas ditas economias modernas.

COMER MORTADELA E ARROTAR PERU.
Esta frase, desaprova quem se gaba do que não é, não tem ou não faz, utiliza metáfora culinária que opõe comida de pobre, a mortadela, a prato de rico ou ao menos remediado, que pode comer peru, carne de melhor qualidade. Há também algumas variantes que utilizam outro tipo de comparações, como a de comer feijão e arrotar caviar, comer sardinha e arrotar pescado. A eructação pela boca dos gazes do estômago, provindo de seus afazeres da digestão, é ansiosamente esperada pelas mães após a administração da mamadeira, mas intolerada nos adultos por ferir regra de etiqueta. Em outras culturas, porém, arrotar à mesa do anfitrião indica gesto de delicadeza e apreço pelo prato que ele ofereceu.

CONVERSA MOLE PARA BOI DORMIR.
Significa assunto sem importância, esta frase nasceu quando o boi era tão importante que dele só não aproveitava o berro. Tratado quase como pessoa, com ele os pecuaristas conversavam, não, porém, para fazê-lo dormir. Nas touradas, quando o boi ainda é touro, até sua fúria compõe o espetáculo. Na copa de 1950, o Brasil venceu Espanha por 6 a 1 e quase 200 mil pessoas cantaram touradas em Madri, de Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, que termina com este verso: "Queria que eu tocasse castanholas e pegasse um touro a unha/ caramba, caracoles/ não me amoles/ pro Brasil eu vou fugir/ isso é conversa mole/ para boi dormir".

DAR UMA BANANA.
Dar uma banana para alguém é frase não só pronunciada, mas seguida do gesto de apontar o cotovelo para o interlocutor. A frase é comum no Brasil, em Portugal, Espanha e Itália, com o mesmo significado de vingança, ofensa ou desabafo. Mas a banana na expressão é ingrediente do português falado no Brasil, já que as outras línguas não ilustram o gesto com frutas. Madame Pompadour (1721-1764) encomendou um quadro ao pintor francês Joshep-Marie Vien (1716-1809) intitulado La marchand d´amours em que um dos amores aparece dando uma banana.

DEPOIS DE MIM, O DILÚVIO.
Esta frase é atribuída ora ao rei Luís XV, o Bem-Amado (1710-1774), ora sua célebre amante, a marquesa de Pompadour (1721-1764), cujo nome era Antonieta de Poisson. A madame era onze anos mais velha do que o rei, discrepância de idade raramente encontrada entre pessoas de sua condição, que por norma amavam e amam homens mais velhos do que elas. O rei, que tinha um relacionamento problemático com os deputados, teria exclamado tal frase diante do parlamento francês, numa de suas notórias crises com o poder legislativo. Sua amante teria dito a mesma frase quando posava para um retrato que estava sendo feito por seu pintor preferido, entristecido pelas notícias de uma derrota sofrida pelo rei, que protegia a ambos. O dilúvio, porém, não veio nem depois dele, nem depois dela, nem depois de outros arrogantes que pronunciaram a mesma frase.

DEU DE MÃO BEIJADA.
Com o significado de entrega espontânea, esta frase nasceu do rito empregado nas doações ao rei ou ao papa. Em cerimônia de beija-mão, os fiéis mais abastados faziam suas ofertas, que podiam ser terra, prédios e outras dádivas generosas. O papa Paulo IV (1476-1559), em documento de 1555, aludiu a esses meios regulares de provento sem ônus, dividindo-os em oblações ao pé do altar e de mão beijada. Desde então a frase tem sido aplicada para simbolizar favorecimentos. Nunca de mão beijada, em 1998 foi a sexta vez que o Brasil disputou a final de uma copa do mundo.

DEU UM NÓ.
 As origens desta frase provêm de Portugal e da Índia. Em Portugal, dar um nó era casar. E, como os vínculos do matrimônio católico, além de indissolúveis, eram e são perpétuos, quando se dizia que alguém tinha dado um nó se indicava que se havia casado. Na Índia, o nó era explícito, pois se costumava dar nó nas caudas das roupas da noiva e do noivo. Passou depois a indicar situações complicada, mas ainda como casar aparece em As variedades de Proteu, de Antônio José da Silva, o judeu (1705-1739): "E antes te aperte o nó do Himeneu/ do que na garganta te aperte outro nó".

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